terça-feira, 11 de setembro de 2012

O situar que não situa.





- Situações? - perguntou a menina.
- Sim, situações. - respondeu a voz.
- O que são? Para que servem?
- Situações, menina, são as indiossincrasias que a vida, em sua resignação, trouxe consigo para o destino de todos afetar, alternar ou amputar.
As situações que todos vivemos, vivenciamos, suportamos e carregamos, fazem parte da grande roda da vida, quase uma rosa-dos-ventos que, aleatoriamente, desfere seus avais por entre os seres humanos (sobrehumanos ou subumanos).
Dentre elas temos as boas, as ruins e  as ‘sem importância’ (pois não ferem o ego feroz, é claro).
As boas decorrem talvez para alguns em menor quantidade, para outros em maior quantidade.
- Por que esta desigualdade? – interpelou a menina.
- Acalme-se. – disse a voz. Não há desigualdade, há aleatoriedade. E com ela se convive com aceitação. Ora, como aqueles acometidos com as situações ruins conseguem lidar com tantos fardos por vezes tão pesados? Com aceitação. Não há como saber o que virá; quem virá; por que foi; por que não foi; por que será e por ques várias vezes, quantas vezes quiser. O ruim não vem porque quer (pobre dele). Vem pois, porque é obrigado. Obrigado a seguir a roleta do gatilho da vida – impiedoso, descondoído. Preconceito bobo que se tem quanto ao ruim, não?! Vem um dia e não para de voltar mais durante a vida... “Coisa chata!”, pensei um dia. Mas o aceitar muda as visões, os prismas dos quais precisamos para podermos nos consubstanciar com a vida, para vivê-la. Necessitamos desses momentos para aprender... Aprender a nos fundirmos com a existência (não obrigatória), que é a que temos no momento, ou você tem outra? Caso tenha, s’il vous plaît, indique-nos o caminho, sem rodeios.
A simbiose que sobre-existe entre o que se aprende e o que se torna, perfaz o resplendor da alma bem vivida... Machucada? Talvez. Mas os estigmas da vida são curáveis... São bens de precisão.
 Mas, claro, existe a sobrinha neta da aceitação... A acomodação. Sim, ela... Um vírus que se espalha mais rápido que a aleatoriedade da roda da vida.
- E será que sou acomodada? – indagou a menina, com medo de um estado viral.
- Não. Ainda não! Você indagou-se se está nesta condição. A acomodação cega, vela e faz mitigar a própria vida, sem lugar in loco para indagações.
- E tem cura tal vírus? – perguntou a menina curiosa.
- Tem. Com o ruim... Aquele que incendeia a realidade em metástase no imo da vida. Portanto, não procure situar-se, pois não há como.

A Person At The Windown - Salvador Dalí

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Saudade que se come fria.


Às vezes, entre devaneios e problemáticas atinentes ao
dia-a-dia, surpreendo-me pensando nas pessoas que deixei para trás, nas pessoas que aguardam à frente e naquelas que não mais, um dia, estarão nessa frente limítrofe com o tempo que agora decorre da real súbita realidade.

A saudade, que comisera-se consigo mesma, austera e mal vivida, se contrai querendo fulgurar-se, procurando expansão.

Só o que fulgura pois, é a realidade. Fulgor que por vezes cauteriza, deixando nódoas e mazelas que nem a primevera da alma consegue absterger.

Doravante, será melhor cauterizar a saudade ou fulgurar o sentimento a essas pessoas que estão a tantos postos e que deixarão seus despojos um dia, senão breve?


Reminescence Archeologique de l'Angelus de Millet - Salvador Dalí

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Lei Seca

 Artigo feito por mim em cumprimento das exigências da disciplina Instituições de Direito Público e Privado - IDPP.
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Lei Seca: O útil inutilmente criado para a inaplicável aplicação

 

O assunto supracitado alude à questões que permeiam os mais diversos e peculiares debates. Uma Lei criada para conter ou até mesmoo findar (insone utopia) os índices de acidentes acometendo motoristas; ciclistas; pedestres; crianças nas calçadas e etc; devido ao uso indevido e exacerbado de bebidas alcoólicas ao volante ou, em alguns casos, ao guidon.
 Com o ímpeto de sua criação, gerou-se grande alarde entre a população, usuários eventuais - ou até diários -, de bebidas alcoóliocas, o comércio e até a indústrica 'alcoólica'.
 Para alguns, em deveras minoria, utiliza-se o método "o motorista da rodada", onde pondera-se quem, dentre o grupo de amigos, não fará a ingestão de bebidas alcoólicas e que deixará cada um dos outros "ingestores" em suas respectivas casas.
  O comércio, preocupado com a queda no consumo de bebidas, prôpos algo consideravelmente enternecente: o "motorista solidário", colaborador do estabelecimento que, estritamente, deve deixar o consumidor "levemente" alcoolizado em sua residência.
    Entretanto, elucidou-se questões relativamente brandas a respeito do assunto.
  Percebe-se sempre em noticiários e reportagens, gravíssimos acidentes envolvendo motoristas embriagados... Acidentes estes que, em grande parte, levaram a óbito. Os infratores, claro, estão todos presos, ou foram devidamente penalizados!!!
    Ledo engano!
    Reside aí o pi, o alfa e o beta da questão.
   Entre paradoxos e discrepâncias da lei, a cada dia, a situação se agrava... Testes não se tornam obrigatórios; testemunhas mal são ouvidas e pouco pode se fazer quando os infratores estão alocados nas classes A e B.
    Uma efetiva resolução a curto prazo faz-se desconhecida. E é, talvez, díficil ter-se apego a uma lei por vezes tão claudicante.
    Deveria-se apenas se aplicar melhor o Art.5 da Constituição e, ao mesmo tempo, vicejar por uma melhor aplicabilidade: a punição justa aos infratores, pois, o pecúnio por si só apenas alimenta a maquina, mas não lubrifica suas engrenagens.
    Clama-se que em um futuro próximo possa se proferir menos por medidas e por ações. A sociedade quer apenas justiça, atos exequíveis e válidos e que não onerem mais o interno perfurado por injustiças da sociedade cidadã e comiserada.

Jonatan Mendes.

    


    
    
     

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Paixão Segundo/Seguindo a mim.

Dream Caused by the Flight of a Bee around a Pomegranate
Salvador Dalí

Venho, querendo...
Baixa, algoz que só...
Só, que deu dó...
Dó, do lado de baixo...
Baixo, do tiro ao alto...
Alto, da esfera comida...
Comiserada pois, pelo fogo...
Fogo, que sei suando...
Suor, que sai batendo...
Batendo, que nem segundos...
Segundos, enternecentes ao nú do olho pudico...
Ponderado, se desfez...
Re-fê-lo, condizendo...
Fazendo, só que salto...
Fulguras, óh que vil!
Servil, que foi seguindo...
Seguindo, segundo a mim...
Minado, carinho foi...
Fui, vendo... reju-veneno.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Sexualidade das Coisas


- Andei, procurando.
- Pelo que? – indagou o sexo.
- Pelo vento esmiuçante remanescente da realidade.

Girafa em Chamas - Salvador Dalí
Por demais, andei, pois, procurando. O postulado nunca foi suficientemente forte para mitigar a dor funda do raso do cerne ardente da atmosfera póstuma do ser que pensa de imediato. Pensou? Então ardeu! Passe gelo, anchovas e macadâmias. Será útil? Se será, sei lá se foi pois, não pensei.
Pernas cansadas... Falanges em atrito com aquela disfunção serena do martelo que pulsa, pulsa, pulsa, pulsa... Cansei!
- Casou-se de que?  - perguntou-me A Coisa, sem que eu fosse algo ou quaisquer resquícios de alguma coisa.
- Da normalidade cubista do surrealismo das ações destes bestiais aboriginalizados e normais. – murmurei com rouquidão para defender-me do pulso (lembra?).
Oriundidade, pois, que sei lá de onde veio. Tudo veio de tudo? Como pode isso?
Meu querido Kardec, creio, deve ter brincado comigo pois, que espírito é esse? Tão palpável e incomensurável, que chega a coçar-me o afã do ventre que não possuo. Mais parece advir de diretrizes cômicas, politeatrais.
São tantos corolários, que me perco em tanta verossimidade.
Verossimidade? – gargalhei!
Cada um é cada um; cada um é “nada”; cada qual  é qualquer cada; nenhum é cada coisa e que coisa é cada um, não?
- Ôh Coisa! A normalidade cansa; estranha; entorpece; dilubria; ensaia; adormece e conflui. – gritei!
- Por que toda essa rebeldia? Onde andará sua sexualidade; sua sexocausualidade; sua sexonormalidade e sua sexodepricialidade? Sua contumácia o abstém demais. Acha que tantos  radicais e prefixos existem mesmo? Hetero-, homo-, poli-, , (risada irônica). Uma ova! Acredito sim em fobia, necro, morfo, algia e, claro, no auto.
Apenas sorria! Estamos todos sendo roubados.
- Andei... Para o céu olhei. De repente, passou... A vida? A Coisa?
Não, o desespero daquele que, sublevando-se, achou a porta. Só a porta? Como abri-la? (medo)
Gargalhou por horas o espírito.