- Situações? - perguntou a menina.
- Sim, situações. - respondeu a voz.
- O que são? Para que servem?
- Situações, menina, são as indiossincrasias que a vida, em sua
resignação, trouxe consigo para o destino de todos afetar, alternar ou amputar.
As situações que todos vivemos, vivenciamos, suportamos e carregamos,
fazem parte da grande roda da vida, quase
uma rosa-dos-ventos que, aleatoriamente, desfere seus avais por entre os seres
humanos (sobrehumanos ou subumanos).
Dentre elas temos as boas, as ruins e as ‘sem importância’ (pois não ferem o ego
feroz, é claro).
As boas decorrem talvez para alguns em menor quantidade, para outros em
maior quantidade.
- Por que esta desigualdade? – interpelou a menina.
- Acalme-se. – disse a voz. Não há desigualdade, há aleatoriedade. E com
ela se convive com aceitação. Ora, como aqueles acometidos com as situações
ruins conseguem lidar com tantos fardos por vezes tão pesados? Com aceitação. Não
há como saber o que virá; quem virá; por que foi; por que não foi; por que será
e por ques várias vezes, quantas vezes quiser. O ruim não vem porque quer
(pobre dele). Vem pois, porque é obrigado. Obrigado a seguir a roleta do
gatilho da vida – impiedoso, descondoído. Preconceito bobo que se tem quanto ao
ruim, não?! Vem um dia e não para de voltar mais durante a vida... “Coisa
chata!”, pensei um dia. Mas o aceitar muda as visões, os prismas dos quais
precisamos para podermos nos consubstanciar com a vida, para vivê-la.
Necessitamos desses momentos para aprender... Aprender a nos fundirmos com a
existência (não obrigatória), que é a que temos no momento, ou você tem outra?
Caso tenha, s’il vous plaît,
indique-nos o caminho, sem rodeios.
A simbiose que sobre-existe entre o que se aprende e o que se torna,
perfaz o resplendor da alma bem vivida... Machucada? Talvez. Mas os estigmas da
vida são curáveis... São bens de
precisão.
Mas, claro, existe a sobrinha neta
da aceitação... A acomodação. Sim, ela... Um vírus que se espalha mais rápido
que a aleatoriedade da roda da vida.
- E será que sou acomodada? – indagou a menina, com medo de um estado
viral.
- Não. Ainda não! Você indagou-se se está nesta condição. A acomodação
cega, vela e faz mitigar a própria vida, sem lugar in loco para indagações.
- E tem cura tal vírus? – perguntou a menina curiosa.
Vejo que andas acometido por imagens internas que só Salvador Dali seria capaz de expressar em telas, assim como sua menina do texto já tentei por demais me situar e acabei descobrindo que não é possível para seres como nós que ao menor sinal de aprisionamento (situar-se pra mim é aprisionar-se)tendemos a causar em nosso labirinto construções de novas alas e anfiteatros. AMO-TE
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