segunda-feira, 20 de julho de 2009

Corrosão

Acordo. Olho. Desejo. Tremo. Quero. Almejo. Pego as notas. Luto contra mim. Venço-me; derrotando-me. Mordo o pano. Rôo a unha ansiosa.
Que frescor é este que vem galopando pela minha cabeça desferindo açoites e chibatadas gratuitas mesmo eu as querendo?
É como se fossem estalaquitites afiadas perfurando a minha cabeça e tentando dizer: “Você quer e não quer – quer enquanto ferirem as vontades avassaladoras que nem conheço quando adormeço, pois no sono, apenas um eu acorda, e ele não se toma de vícios e sim de risos.”
Ele então ri de mim enquanto sonho, me batendo com gargalhadas esmuiçantes, desafiando meus dedinhos ansiosos por fumaça que só funcionam quando me desperto.
Gostaria também de rir de outros dedinhos. Mas como rir deles, se o meu apodrece em vontades incontroláveis de aspirar ao dilúvio da minha vida esfumaçada pela fotossíntese tóxica que enegrece os pulmões?
Canso-me dia após dia destas estalaquitites sem assunto e que tocam sempre a campanhia do meu outro eu querendo que eu desperte para poderem perfurar-me mais suavemente.
Quero viciar-me em mim mesmo, que sou o mais puro gosto de ingenuidade. Mentira. Sou a mais pura acidez que me corrói. Quero parar de desejar tão afoito aquelas moléculas que me estufam depois de me satisfazerem. Quero apenas o vício pela vida, pois ela é a única que não me perfura o dedo, mas que sangra a lembrança do desejo, esquecendo-o.

Eu quero e Eu posso. Perfurar-me; corroendo-me.

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